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Postado por ACE Muqui em 10 junho 2021

Entrevista com o sr. João Thomé de Siqueira, fundador da “João Thomé Relojoaria”

Sr. João Thomé de Siqueira é um grande homem que no ano de 1960, aos 24 anos, deixou um legado. Nascido em Muqui (ES), no Sítio – Alto Divino Amparo (Serra do Severino), desde cedo destacou-se pelo jeito cuidadoso e servil. Filho do seu Oscar Thomé de Siqueira e da dona Maria Lucinda da Conceição, o menino que desde cedo trabalhou na roça, foi um filho presente e expressivo na vida dos pais.

Morou nesta localidade até aos 12 anos de idade. Em 1948, foi morar em Muqui, convidado por seu cunhado, Francino, para trabalhar em uma “venda de secos e molhados”. Em 1949, seu cunhado montou sua primeira relojoaria (próximo ao que é atualmente a Plastimel), onde João Thomé, com 14 anos, iniciou seu ofício de relojoeiro/ourives, sendo autodidata. Ali foi o princípio de enfrentar o comércio e lidar com gente.

“ E não é fácil não. Tem que ter muita sabedoria e respeito ao cidadão. Ninguém é melhor do que ninguém.  Ia daqui pra roça a pé, pela linha, eu e minha mãe. Primeiro calçado que coloquei no pé eu tinha 12 anos , porque não podia comprar. E meu primeiro dinheirinho que tive no bolso peguei um pedacinho de terra que tinha do meu pai lá e pedi para eu plantar um feijãozinho. Plantei, colhi  e vim aqui na rua vender . Ganhei com meu suor , nunca tive com sobra, mas nunca  me faltou nada que eu precisei.” 

                       

(Fotos arquivo pessoal da família- Sr João Thomé)

Em 1950 teve uma grande enchente que fez com que  tivessem que trocar a vendinha de lugar, indo para onde posteriormente ficou conhecida como a “Barbearia do Neném”, ficando ali até 1955.

Em meados de 1955, João Thomé, juntamente com seu cunhado e patrão Francino, abrem uma pequena porta na casa/imóvel que se fixaria até os dias atuais. Nos anos seguintes,  seu patrão Francino decidiu “passar” a relojoaria para aventurar-se como taxista, carreira promissora na época.

Trabalhador e desbravador, Srº João Thomé sabia que para viver os sonhos precisaria trabalhar e conquistar sua autonomia, e assim o fez. Como não tinha dinheiro algum, conseguiu um empréstimo no banco Banestes e Ribeiro Junqueira no valor de 150 mil cruzeiros para se tornar o dono. Foi aí que iniciou sua carreira de empresário também.

Com seu espírito empreendedor buscou meios de expansão para os produtos representados, conquistando mercado e parceiros, e então, o agora negócio próprio do Srº João Thomé, passou a se chamar “Relojoaria Popular”. No entanto, com o passar do tempo as pessoas começaram a conhecer a relojoaria apenas como “João Thomé”, nome que já ligava ao comércio e manutenção de relógios, venda de ouro e confecção de alianças.

Com tantos momentos de glória, houve também os apertos que Sr. João Thomé teve de passar para manter seu negócio de pé durante todos esses anos. Dentre tantas adversidades, ele cita o período da ditadura militar como o mais desafiador.

O local da relojoaria era alugado junto ao senhor Zamiti França e o ponto de comércio era somente o cômodo da frente do imóvel, pois o resto da “casa” ainda era moradia do Srº Zamiti França. Com o falecimento do proprietário, seus 4 filhos colocaram o imóvel à venda  em 1986 e sr. João Thomé decidiu comprar o imóvel.

Relembrou, também, dos muitos meninos que passaram pela relojoaria, netos, filhos, sobrinhos… 

“O Carlinhos (Morga) ficou comigo 33 anos, até montar o estúdio dele de fotografia. Bom companheiro, sempre serviu muito bem. Bernardino, ficamos 62 anos lado a lado, nunca nos desentendemos. Uma peça rara! Nunca me abandonou, profissional de alto nível, ser humano da mais perfeita qualidade. Era um gênio para consertar relógio e gostava daquilo. Meus netos trabalharam comigo  e tiveram sucesso também, são vencedores. Altemar também, a profissão que ele está seguindo é boa. O Hugo que está lá até hoje, 27 anos.” Relembra o Sr. João Thomé.

(Foto arquivo pessoal da família- Cristiano Prúcoli, Sr João Thomé e Carlos Morga)

Casado com dona Yolanda Maroni de Siqueira, Sr João Thomé ressalta a importância de sua companheira em sua jornada, costurando e contribuindo na criação dos cinco filhos que tiveram: Ana Maria de Siqueira, João Renato de Siqueira, José Luiz de Siqueira, Marco Antônio de Siqueira (falecido) e Márcia Maroni de Siqueira Martins.

“Minha esposa me ajudou muito, minha mãe no fogão, porque minha mãe gostava de cozinhar,  e ela me ajudou muito costurando  e ela gostava de costurar, cozinhar não gosta até hoje rsrsrs. “ Brinca ele,  ao se referir à esposa com admiração.

        

(Fotos arquivo pessoal da família – Natal 2020)

Em toda a vida dos filhos sempre se mostrou um pai  presente , oferecendo a eles princípios inestimáveis: a honestidade e responsabilidade. Hoje, eles não apenas são fruto desse amor, como também sucessores do sucesso profissional deixado pelo pai.

Aos 78 anos de idade, Srº João Thomé de Siqueira sofreu um infarto, o que resultou em seu afastamento pela primeira vez de suas atividades. Como não pôde retornar, sua filha Márcia Maroni de Siqueira Martins assumiu provisoriamente o negócio até o ano de 2015. Como já possuía uma profissão (Odontóloga), não conseguiu conciliar as duas atividades por muito tempo. Foi então, que o seu neto Tarcísio de Siqueira Prúcoli que fora funcionário da relojoaria em sua adolescência, junto com sua esposa Gracielle Marques, que já atuava no comércio de jóias e semi joias, decidiram assumir o negócio do avô.

“ Mas tudo tem limite , sou mortal igual a outro qualquer. Mas a relojoaria está em boas mãos. “

(Foto arquivo pessoal da família- Marcia Maroni, , Dona Yolanda Maroni, Sr João Thomé, Tarcísio Prúcoli, Hugo e Gracielle Marques)

Para acompanhar o processo de modernização da sociedade atual, os novos “donos” do negócio decidem promover uma pequena reforma com pintura, troca de piso e de mobília, dando uma nova “roupagem” ao negócio. A ampliação e diversificação dos produtos também foi um ponto chave para a continuidade. No entanto, a pessoa que construiu toda a história aqui contada com dedicação, persistência, honestidade, inteligência e credibilidade, já em 2015 foi eternizada em uma homenagem onde a anterior “Relojoaria Popular” passa a se chamar “João Thomé Relojoaria”.

A forma como o sr. João Thomé trata sua clientela é sua marca registrada, vindo clientes, inclusive, de outras cidades para serem atendidos por ele. Ressalta que nunca teve dificuldades em lidar com o ser humano, achava até gostoso.

“Eu vendia bastante relógio. Tinha freguês de todo tipo, toda classe,  todo credo, todo nível social, mas eu sempre tive o mesmo tratamento com todos, sempre respeitando , não discriminando ninguém. E sempre fui respeitado, a credibilidade, sempre foi meu maior triunfo em toda minha vida. Já tive clientes de Vila Velha, ficaram tão satisfeitos pelo meu jeito de atender, que compraram uma medalhinha de ouro como lembrança da relojoaria. “

Na situação atual que o mundo enfrenta, de pandemia, o sr. João Thomé  é incisivo e aconselha os empreendedores a passar essa fase com cabeça erguida e muito trabalho.

“A pandemia atrapalhou muito.  Meu conselho é tratar bem , respeitar, e servir bem aquilo que necessita. Não muda o gosto do cliente não, dá uma força, seja claro, seja franco e seja leal, é o que conquista. Você vai ter sempre vitórias, porque o cliente é tudo, é o ganha pão. “

Nesses 24 anos de associação, o Sr. João Thomé frisou o papel da ACE- MUQUI no desenvolvimento econômico e o fortalecimento do empreendedorismo local  .

“A ACIM me ajudou muito a organizar, não tinha firma, não tinha nada, organizei a casa com auxílio da associação , pagando todas as obrigações sociais dos companheiros de trabalho , nunca faltei com nada. A associação me ajudou muito a organizar  o comércio  legalmente. Sempre abriram caminhos para mim, aprendi a ter mais experiência para organizar as coisas.”

Sempre com muita força de vontade, entusiasmo, motivando todos ao seu redor, deixou ao longo dos seus anos de comércio um exemplo de vida, caráter, ética, humildade, determinação e força a ser seguido. Hoje, a relojoaria “João Thomé”, está sob administração de seu neto, Tarcísio de Siqueira Prúcoli e  esposa Gracielle Marques, que dão continuidade ao legado deixado pelo sr. João Thomé.